sábado, 23 de fevereiro de 2008

Um Jeito Novo de Olhar o Mundo


Foto de Helmut Newton

Phelipe Rodrigues
Do Diario de Pernambuco

Ao longo do século XX, o olho humano foi posto em xeque várias vezes. Proporção e enquadramento da Grécia clássica, dois elementos para reconhecer a beleza de uma obra de arte, seriam abalados com a revolução do movimento impressionista e a realidade alterada do pintor holandês Vincent van Gogh. Tudo isso no curto espaço de tempo das duas últimas décadas dos 1800. Antes deles, o inventor Joseph Niépce, em 1826, apresentaria uma técnica nova de captar o mundo real, a fotografia. Utilizando esses dois universos, surge uma terceira figura que mudaria, por completo, o jeito de olhar para as coisas: o fotógrafo de moda. Tão importantes quanto criadores de roupas, como Christian Dior, eles exigem até mesmo uma forma especial de reler as mensagens enviadas, todos os dias, em revistas, na televisão ou em jornais. No próximo mês, dia 25, o fotógrafo paulista Clicio Barroso vem ao Recife para apresentar o universo de alguns personagens que ajudaram a criar toda a estética de uma época em sua palestra.
É o caso, por exemplo, das sereias atléticas e bronzeadas do francês Gilles Bensimon, expostas nas páginas da Elle francesa, nos anos 80. A partir delas, brasileiras e sudanesas queriam ter o mesmo corpo caucasiano da australiana Elle Mcpherson, a mais representativa dessas garotas que vendem saúde e água Perrier. O sonho foi tão bem construído por Bensimon que ele acabou casado com a ex-nadadora nascida em Sidney. "Mostro imagens de várias décadas. Incluindo as da Elle. Mas vou seguindo uma linha do tempo", conta Clicio, por telefone, do seu estúdio em São Paulo. Em quatro horas de conversa, ele mostra como os pintores renascentistas foram decisivos para a cultura do portrait.
Fora de qualquer time, criando um ambiente particular e visionário para trabalhar, surgiriam nomes como o do britânico Nick Knight, nos anos 90. "Na minha opinião, ele é o mais criativo de todos. Sempre conseguiu unir técnica, arte e moda nas fotos para a revista The Face", elogia, referindo-se às fotos de cor saturada que inauguraram a fase de tons muito fortes no segmento fashion e na publicidade. Interagindo com editoras difíceis como Diana Vreeland, mas falando também com consumidores dos calendários da Pirelli, Helmut Newton, um ícone dos 70, traz misoginia e fetiche para o mainstream. Um erotismo de gaveta, malhava o americano Robert Mapplethorpe. Nem todos teriam a sorte de Richard Avedon ou Cecil Beaton, preocupados só com o belo, a elegância clássica. "O primeiro ficou famoso com a foto de Dovima entre os elefantes", avisa Clicio.
Para não extrapolar o horário, ele deixou de fora alguns pesos-pesados como o primeiro fotógrafo de moda no Brasil, Otto Stupakoff. "Não acho justo falar em alguns conhecidos e ficar sem citar outros. Trabalhei com ótimos profissionais na era de ouro do estúdio Abril", desculpa-se. No caso de Jean-Baptiste Mondino ou Paolo Roversi, que ganham apenas citações, ele informa que, no Brasil, são quase desconhecidos. Ainda assim, a conversa com Clicio Barroso, restrita a convidados da galeria Arte Plural, vale muito a pena. Sobretudo, quando ele fica empolgado e começa a falar sobre a turma dos anos 90. "Terry Riochardson, Nan Goldin e Cindy Sherman. Eles são a verdadeira evolução da fotografia de moda", finaliza.

Serviço

Palestra - A Evolução da Fotografia de Moda, na galeria Arte Plural. Mais informações: 3424-4431.