segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Fotógrafo do cinema italiano ganha mostra



Mario Gioia
Da Folha de São Paulo


Ele eternizou algumas das mais famosas imagens de filmes do cinema italiano, mas ainda assim é modesto ao falar sobre sua contribuição. "Tive sorte em estar no momento certo em Cinecittà." O italiano Mimmo Cattarinich, 70, fotógrafo de sets de filmagem, ganha exposição com 112 fotografias que começa amanhã no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
Cattarinich começou a trabalhar nos anos 50, como assistente de dois reconhecidos fotógrafos, Di Giovanni e Sergio Strizzi, e, na década seguinte, assumiu sozinho o still de alguns longas-metragens rodados em Cinecittà. Tudo isso por acaso, segundo ele.
"Meu pai tinha um bar e restaurante no estúdio de Dino De Laurentiis. Me encantei com o "star system' de lá. Me diga, onde um rapaz jovem poderia querer ficar com aquele desfile de celebridades e mulheres bonitas, como Silvana Mangano?", conta ele, que aproveitou uma recuperação no colégio para começar na profissão e não voltar mais para a escola.
O fotógrafo lembra que astros de Hollywood eram comuns nos estúdios. "Mas o que mais me interessava eram os nossos ídolos: Vittorio Gassman, Alberto Sordi, Totò", diz.
Ao acompanhar o trabalho de Di Giovanni, começou a esboçar seu estilo. "Não sou um grande fotógrafo. Mas persigo aquele momento-chave, quando os atores estão no auge de sua atuação. O modo como Di Giovanni encontrava a luz para a foto também me marcou."
Tazio Secchiarolli, conhecido como paparazzo e que ganhou mostra recente em São Paulo, é outra de suas influências. "Esse lado de exibir os bastidores de cena, de "roubar' fotos, quase documental, ajudou a compor meu estilo."
Na exposição, destacam-se registros de filmes hoje clássicos, como "A Noite", de Antonioni, e "O Leopardo", de Visconti. Dos diretores, lembra o perfeccionismo. "O fotógrafo de still não podia mexer um milímetro do que a câmera captava. Mas eles eram grandes estetas, tinham equipes grandes e faziam tudo o que planejavam."
A mostra guarda um espaço especial para os dois grandes interlocutores de Cattarinich -Fellini e Pasolini. "Fellini era familiar, seus sets sempre eram cheios de mulheres bonitas. Já Pasolini era muito gentil, falava baixo, se preocupava com todos, até nas partidas de futebol que jogávamos."
Entre as mais belas imagens da exposição, está a que retrata a soprano María Callas, de semblante triste, junto de Pasolini, em ruínas que serviram de cenário para "Medéia", em 1969. "Ela estava deprimida por causa do final do relacionamento com Onassis. Mas adorava Pasolini, os dois tinham uma ligação muito forte", lembra ele.
Cattarinich se comove ao lembrar da morte de Pasolini, em 1975. "Estava em um set de Bolognini, também muito amigo dele. Foi um choque."

MIMMO CATTARINICH - O MAGO DA LUZ
Quando: de ter. a sex., das 13h às 21h30, sáb., dom. e feriados, das 10h às 18h30; até 30/3
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: entrada franca