quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Fotografias captam Brasil pelo olhar de estrangeiros

Luiz Fernando Vianna
Da Folha de São Paulo

"Não é um olhar comum", afirma a curadora Nessia Leonzini. "É uma cultura antiexótica", ressalta o outro curador, Paulo Herkenhoff, sobre um dos núcleos da mostra. A começar pelo título, "Brasil: desFocos [O Olho de Fora]" procura driblar o óbvio. Com inauguração amanhã para convidados e na terça para o público, no Centro Cultural Banco do Brasil carioca, a exposição reúne visões de 30 artistas estrangeiros sobre o nosso país tropical, quase todas inéditas por aqui. "O que um turista faz? Tira fotos. Mas, no caso, os turistas são artistas. Não é o Brasil do sexo, do samba e do Carnaval. Sexo até há, mas não é pornográfico", diz Leonzini. Ela se refere, por exemplo, às imagens sensuais do norte-americano Bruce Weber, um dos principais fotógrafos de moda do mundo. São fotos feitas em 1986 no Rio, e uma das modelos é Luiza Brunet. O também americano Matthew Barney, marido da cantora Björk, contribui com imagens da série "De Lama Lâmina" (2004), em Salvador, onde passou o Carnaval. Referência a orixás estão em suas fotos, assim como nas do "talking head" David Byrne, que têm molduras propositalmente barrocas. Na mesma sala, estão três polaróides que Andy Warhol fez em 1977 de Pelé, então jogando nos EUA. Elas foram a base do retrato em silk screen que o papa da pop art fez do rei do futebol. Uma outra sala é toda dedicada a Oscar Niemeyer. São fotos de Brasília e de casas e edifícios projetados pelo arquiteto.
O artista que predomina é o norte-americano Todd Eberle, autor de imagens impressionantes do edifício Copan (SP) e da Casa das Canoas (RJ) e de uma foto conceitual de uma poltrona Barcelona, símbolo do modernismo e comum nos gabinetes do poder, em péssimo estado de conservação no Memorial da América Latina. "Funciona como alusão à política do país", diz Herkenhoff. Mas o olhar sociopolítico é minoritário no conjunto de cerca de cem trabalhos. Quatro das fotos do americano Ralph Gibson indicam lugares e pessoas pobres ou violência, como no caso do revólver no coldre de um policial, mas não têm intenção de denúncia. "O que importa para ele é a forma, é captar aquele "momento decisivo' de que falava Cartier-Bresson. Ele jamais faria em estúdio a foto dessa mulher negra com um cigarro na mão e um poodle branco na outra", aponta Leonzini. Na mesma parede de Gibson, estão "A Cobra", do alemão Anselm Kiefer, e uma foto marcante do mexicano Gabriel Orozco de uma feira livre desmontada em Cachoeira (BA).

BRASIL: DESFOCOS [O OLHO DE FORA]
Quando: ter. a dom., das 10h às 21h; até 16/9
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil -Rio (r. Primeiro de Março, 66, RJ, tel. 0/ xx/21/3808-2020)
Quanto: entrada franca